Semana quente em Lisboa, e não devido à Primavera, mas consequência da acção de muitos movimentos e indivíduos. Em Lisboa nasceu uma nova ocupação, o espaço “Seara – Centro de Apoio Mútuo de Santa Bárbara”. No comunicado deste novo lugar pode ler-se: “A nossa acção visa recuperar um espaço à especulação imobiliária, transformando-o num lugar de solidariedade social. Responder às exigências do nosso contexto social é hoje uma urgência improcrastinável, todavia, o nosso projeto quer também ser uma chamada coletiva à reprodução de experiências autónomas que respondam à crise social que a epidemia acelerou. A solidariedade e o apoio mútuo, portanto, vão para alem da satisfação de demandas individuais, tornando-se práticas de crítica e transformação do caminho que os interesses económicos querem impor ao nosso futuro”.
É por isto que sugerimos Rosso Vivo, documentário de Claudio Carbone, relativo ao contexto de Roma, com o intuito de incentivar a análise e comparação da experiência deste novo centro em Lisboa com outros processos de ocupações por todo o mundo.
No final dos anos 80, Roma assistiu à recuperação e re-significação de espaços abandonados na cidade através da ocupação ilegal de edifícios públicos e privados, promovidas por colectivos autónomos. Assim nasceu o fenómeno da auto-recuperação dos edifícios municipais como possível solução para o problema habitacional. O ritmo de desenvolvimento da política local e nacional é, de facto, irreconciliável com o imediatismo das emergências da cidade. Os efeitos do sistema de privatização e de venda do património público das instituições continuam a criar novas exclusões. Em 2002 houve um novo ciclo de ocupações que envolveu, por exemplo, os edifícios vazios da Via Bruno Pellizzi, escolas abandonadas como a de Casalbertone, o antigo cinema Império em Torpignattara e, entre estas, o antigo cinódromo da capital em Viale Marconi.
E é precisamente no antigo cinódromo da capital (hoje LOA ACROBAX) que nasceu a equipa All Reds Rugby Roma com uma formação feminina e masculina e com um projecto juvenil, que promoveu, durante dois anos, o desporto popular como um momento de agregação baseado no anti-fascismo, anti-racismo e anti-sexismo. Nasceram em 2005 quando decidiram recuperar a antiga pista de corridas de cães que tinha sido abandonada durante anos, tornando-a num campo onde agora é possível praticar desporto, de forma livre e gratuita.
Notas de Autor
O clube desportivo All Reds Rugby Roma é uma organização sem fins lucrativos, as decisões e a organização são partilhadas entre todas e todos os atletas que participam na vida activa da associação. A prática desportiva não depreende o pagamento de uma mensalidade, mas sim a participação activa na gestão e no autofinanciamento.
“Contro ogni fascismo mai un passo indietro”
Neste espaço existem novas formas de agregação através da vivência, organização, transformação e reinvenção de espaços e utilizações. O reconhecimento dos resultados do processo de estabilização e o conhecimento destes espaços urbanos, faz-nos reflectir sobre a relação entre eles e o sucesso/fracasso dos programas e serviços prestados aos cidadãos pelos organismos públicos. No fundo, a acção de colectivos autónomos que se organizam para a recuperação de espaços que funcionam segundo modelos de gestão autónoma e colectiva, tornam-se lugares de integração e agregação social desencadeando formas de regeneração urbana.
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