O Marcello e o filho dele, Ninetto, andam pelas periferias de Roma, acompanhados por um corvo (“um intelectual de esquerda de antes da morte de Palmiro Togliatti”) que não pára de disparar recomendações, conselhos e considerações filosófico-políticas. Começa assim a sua viagem numa paisagem metafísica, onde os homens são pequeninos e quase se perdem no pano de fundo preto e branco no cenário campestre de Roma. Para onde é que vão? Para lado nenhum: o Marcello e o Ninetto encontram camponeses desgraçados, proprietários armados, actores num Cadillac estragada, um engenheiro feroz, participam no funeral de Togliatti, viajam no tempo para pregar aos pássaros; mas, como diz o corvo “o caminho começa, a viagem já terminou”. Dirigido em 1966 por Pier Paolo Pasolini, tendo como protagonistas Totò e Ninetto Davoli (e o corvo, claro), Uccellacci e Uccellini é um filme poético, político e metafísico, que mistura neorrealismo e surrealismo – Passarinhos e Passarões parece um À Espera de Godot em movimento, dirigido por um Luis Buñuel apaixonado pela vida dos pobres.
Bónus: a banda sonora original é de Ennio Morricone e o Domenico Modugno canta (?!) os créditos do filme.