O assassinato cobarde de George Floyd trouxe uma chama de revolta aos países ocidentais, provocando levantamentos contra o racismo estrutural e institucional. Este clima motivou-nos a eleger, para esta semana, um filme do realizador africano Abderrahmane Sissako de forma a reflectir sobre a origem da questão racial, conectada, certamente, com a ocupação colonial de África.
Bamako retrata um processo da vida quotidiana da capital do Mali- que dá o nome ao filme. Durante este processo, opõem-se duas hipóteses sobre a génese da pobreza nos países africanos, mas também nos restantes países considerados subdesenvolvidos. De um dos lados considera-se que que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional actuam em consonância com os interesses especiais das nações desenvolvidas; do outro lado sugere-se que a corrupção e a má gestão destas nações singulares é responsável pela actual situação financeira destes países.
Aliando um drama judicial e um retrato do quotidiano do Mali, Bamako enfrenta ambos os temas com igual habilidade, onde os protagonistas do filme, por serem escritores e filósofos africanos, se emancipam de um guião pré-estabelecido. Como apontamento, queremos ainda chamar à atenção para a força da cena do xamã africano cujo discurso não está legendado, como se nos lembrasse, mais uma vez, de África como continente sem voz, que ninguém quer ouvir ou tentar compreender.