Planet of the Apes é um filme de 1968 e um clássico de culto do realizador Franklin J. Schaffner. Com Charlton Heston como protagonista, este filme de ficção científica desenrola-se segundo um modelo de parábola descrevendo-nos indirectamente os anseios e e terrores de um mundo nuclear (acometido por uma Guerra Fria que encerrava em si a possibilidade do apocalipse) e onde os problemas da segregação e estratificação sociais adquiriam particular intensidade (sobretudo nos EUA, mas não só). Heston era à altura um defensor muito importante dos direitos civis contra a discriminação, em particular da população afro-americana, bem como de medidas de gun control, antes da sua viragem súbita para a direita e para o partido Republicano, que o tornariam numa espécie de celebridade ultra-conservadora e alvo da crítica de um realizador como Michael Moore (ver Bowling For Columbine).
Em Planet of the Apes, um grupo de astronautas despenha-se num planeta desconhecido depois de uma viagem à velocidade da luz onde hibernaram durante um longo período de tempo. Na sua descoberta do planeta encontram um mundo onde os macacos são os seres civilizados e os humanos os selvagens que são caçados, perseguidos e estudados em laboratórios. O desenrolar enigmático do filme mostrar-nos-á uma sociedade pós-apocalíptica onde as estratificações ontológicas e políticas entre humanos e animais, brancos e negros, homens e mulheres serão evidenciadas e satirizadas.
Não poderemos deixar de pensar, à medida que vemos o filme, que esse planeta habitado por macacos é estranhamente parecido ao nosso… Numa altura de crise pandémica, que é também uma crise política, social e, sobretudo, uma crise de percepção e de subjectividade, parece-me adequada a proposta deste filme, que através da parábola e da sátira põe a nu a possibilidade de destruição da nossa própria realidade.