Legalização do aborto: vozes da luta

Desta vez a Rádio Gabriela cruzou o oceano e foi até à Argentina para ouvir a voz das companheiras feministas após a grande vitória da legalização do aborto ocorrida há umas semanas atrás. Conversámos com elas sobre a luta titânica que o movimento está a levar em frente na Argentina e no continente latino-americano, assim como dos próximos desafios no caminho para uma sociedade verdadeiramente equitativa e justa.
Lucia, estudante, trabalhadora, educadora popular, relata a sua experiência de feminista dentro do seu espaço de militância, a associação “Aula Vereda”, um colectivo de educadores e educadoras que trabalham juntes num projecto de educação popular com crianças e adolescentes;
Carolina, educadora comunitária, salienta a centralidade do feminismo no seu quotidiano, tanto nos espaços laborais como nos vínculos afectivos;
Juan Da Heras, desenhador gráfico e investigador trans-feminista, destaca a importância de visibilizar também os direitos reprodutivos e sexuais dos homens trans e a enorme importância da participação da comunidade LGBTQI+ na luta feminista;
Victoria, professora de espanhol e bailarina de Tango fala do feminismo como uma força política e social muito poderosa e da enorme responsabilidade de luta e compromisso com os direitos das mulheres e dissidências que ainda temos daqui para a frente.

Prestamos homenagem à luta das irmãs argentinas e à nossa querida Helena Heft, que nos
proporcionou estas entrevistas. E deixamos aqui um texto que uma outra companheira, a querida @Eli Ella, escreveu no dia em que o direito ao aborto seguro, legal e gratuito se tornou lei na Argentina.

“Com enorme comoção aprendo o resultado desta incrível batalha que as irmãs argentinas levaram à frente com dignidade, lágrimas, orgulho e determinação. A partir de agora, o aborto será seguro, legal e gratuito. Uma decisão histórica num país onde uma das
primeiras causas de morte entre as mulheres grávidas é o aborto clandestino. Estima-se em 135 o número de mulheres internadas cada dia nos hospitais argentinos devido às complicações relativas aos abortos ilegais. As que conseguirem sobreviver, levarão consigo durante a vida inteira as marcas permanentes dos tratamentos desumanizantes da violência institucional e obstétrica, perpetradas através do escudo da religião para justificar a violação sistemática dos direitos humanos.
Esta vitória explode num continente onde nascer mulher significa nascer vítima de discriminação, marginalização e violência, um continente que tem uma dívida tão ampla com as mulheres que teve de cunhar um neologismo: feminicídio, do latim femini (mulher) e caedo (matar). Termo usado para se referir aos milhares e milhares de assassinatos de mulheres que são cometidos cada ano por causa do ódio e do desprezo pelo sexo feminino.
Portanto, num continente onde as violações dos direitos fundamentais das mulheres ocorrem com a tolerância e a cumplicidade das instituições que as disfarçam e as incentivam, esta vitória é, mais do que nunca, necessária.
Um ato revolucionário e inspirador para que as ruas de mais e mais países da América Latina e do mundo inteiro se colorem de verde e que a aspiração por uma vida digna e plena se torne realidade para todas.
Obrigada, mulheres argentinas, por despertarem e tornarem o vosso sonho no sonho de todas nós.
Obrigada, por gritarem até sangrarem e por não desistirem nunca.
Obrigada por serem umas mestras tão poderosas e tão valentes.

Hoje, mais do que nunca, é um orgulho me reconhecer mulher.

É LEI”

Publicado por Rádio Gabriela

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