Rebels on the Mov(i)e #29 | Chaimite

Chaimite, é o nome de um território que foi cercado pelo exército português em Moçambique, e também o título do filme que a Rádio Gabriela sugere para este Rebels on the mov(i)e.

Este filme, produzido durante o Estado Novo, é um documento de grande relevância, porque testemunha exactamente a glorificação imperial que apaga a violência e o racismo com a qual o império foi construído. De facto, ao propor este filme, a intenção é poder analisar um documento histórico, produzido no período do surgimento de um consumo cultural de massa, no período subsequente à Segunda Guerra mundial, que formou a mundividência dos portugueses, ainda hoje enraizada nas suas mentes. Propor um filme produzido com intenções claramente propagandistas, é, portanto, um convite a uma autorreflexão, um convite a pensar a historia não como factos naturalizados, mas como terrenos no qual estão em tensão diferentes poderes e visões sobre o próprio presente, mais do que um terreno em que se disputa a compreensão do passado.


A mitopoese imperial constitui-se em dois momentos. O primeiro o selectivo: factos específicos são obliterados da história oficial. O segundo o da glorificação dos seus heróis. A história do colonialismo português em África é repleta de omissões históricas. A imagem difundida, ainda em época monárquica, de um direito histórico natural a colonizar porções do território africano junto de outras potências europeias, em combinação com a missão civilizadora, não admite o reconhecimento da resistência dos povos colonizados, quer no século XIX, quer na guerra colonial que eclodiu na década de 60 de XX.

Os movimentos de descolonização que tornaram célebres as figuras de Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Eduardo Mondlane e Samora Machel, foram definidos como terroristas e a resistência ao colonialismo português de finais de XIX é constantemente secundarizada perante a celebração dos heróis das campanhas de África, como Mouzinho de Albuquerque ou Paiva Couceiro. As guerras de conquista pela afirmação de objectivos de controlo geopolítico, no contexto da “corrida a África” iniciada na década de 70 de XIX entre as potências europeias, foram edulcoradas e as brutalidades cometidas omitidas. A mesma operação de ofuscamento histórico que hoje marca os massacres perpetrados durante a guerra colonial (1961-1974), como o de Wiriyamu ou o de Batepá. 

A colonização dos territórios africanos em finais de XIX foi um acto violento, perpetrado pela mão de indivíduos cujos nomes hoje marcam a toponímia das cidades portuguesas: Guerra Junqueiro, Mouzinho de Albuquerque, Paiva Couceiro, entre outros.

Ontem, 3 de Fevereiro, assinalou-se os 52 anos do assassinato de Eduardo Mondlane, em Daar es Salaam, antiga capital da Tanzania. Sugerimos este momento de reflexão, para adensar as tensões deste passado-presente e para que possamos enaltecer outros e não os mesmos de sempre.

Publicado por Rádio Gabriela

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