A quebra do rame-rame e da lufa-lufa e aquilo que as pessoas entre outras coisas se
puseram a fazer (durante uma quarentena).
«Um dia vou compor uma música sobre o romper do dia no Alabama…» «Sim, sim,
depois falamos disso melhor, mas agora não posso…» «Gosto tanto de pintar, mas nunca
tenho tempo…» «Se eu soubesse fazer um vídeo, mas não sei como se faz…»
Em Março e Abril de 2020 para muitas pessoas (não todas…) aconteceu o impensável: os seus obrigatórios, inquestionáveis, imprescindíveis trabalhos pararam. E fecharam as lojas,
acabaram os grandes espectáculos, fomos aconselhados a nem sair à rua. E de repente,
nasceram rádios amadoras, multiplicaram-se na internet vídeos com pessoas a fazer leituras, a dar aulas de italiano ou a partilhar receitas recém-descobertas, colectivos descobriram como fazer música ou teatro, em conjunto, à distância. Em pessoas que eu julgava que conhecia, descobria agora surpreendentes actores, músicos videastas, radialistas, poetas, pintores… E adormeci várias noites a pensar na frase do Marx tantas vezes citada por Mário Dionísio: «Numa sociedade sem exploradores nem explorados não haverá pintores, mas pessoas que, entre outras coisas, pintam».
Neste programa vamos dar um passeio por algumas destas coisas que as pessoas, entre outras coisas, se puseram a fazer durante a quarentena.
Este programa foi feito para uma sessão Ouvido de Tísico no quintal da Casa da Achada –
Centro Mário Dionísio em Julho de 2020 e transmitido ao mesmo tempo pela Rádio Paralelo.