No passado dia 21 de Junho no bairro de Montemor em Loures várias casas foram demolidas pela Câmara Municipal de Loures que não deu nenhuma alternativa adequada a quem perdeu a casa. Nestes últimos meses ocorreram despejos e demolições noutros bairros deste município – bairro do Catujal e bairro do Talude. A associação Habita, o Colectivo Stop Despejos e a Cooperativa Inter Hazera têm acompanhado a luta destas famílias.
A Rádio Gabriela esteve com Sara Conchita da associação Habita que falou sobre esta situação.
“… na segunda-feira de manhã, às nove da manhã, recebo um telefonema a dizer que as máquinas estão no bairro. E as máquinas entraram, a polícia acompanhou as máquinas e a primeira casa a ser demolida, a de uma senhora que estava grávida de 7 meses que foi tirada de casa”
“… eu acho que há aqui várias questões que demonstram que o Estado não está de todo preparado para dar resposta a uma possível onda de despejo porque se se levantar a suspensão de despejos, nós tememos que isso aconteça, porque já estão muitos processos a decorrer em tribunal. E também não está a resolver a crise da habitação porque nós continuamos a falar de barracas, estamos em 2021 e temos novos bairros de barracas em Loures, continuamos também a acompanhar ocupas da habitação social temos o caso do IRHU no Porto que felizmente se organizaram e conseguiram parar alguns dos despejos. Então a sensação que dá é que passado 10 anos parece que as coisas não mudaram assim tanto, o PER que era o Programa Especial de Realojamento foi revogado mas o Primeiro Direito que vem substituir este programa para resolver esta falta de habitação especialmente para famílias carenciadas desde 2018 está no papel e ainda não saiu do papel. Nós estamos sempre a ouvir os milhões e a bazuca mas para onde esse dinheiro vai?”
“… achamos vergonhoso que seja o próprio Estado a fazer estas demolições ou mesmo despejos ou desocupações no caso da habitação social sem garantir que as famílias que já estão fragilizadas tenham realmente um apoio. Porque o apoio que a Segurança Social dá não é um apoio real e não é um apoio estável no tempo, é uma migalha.”
“Para finalizar gostava de falar da violência deste processo. É uma violência muito grande, uma violência psicológica para os adultos mas acredito também para as crianças. E como é que isto tudo é feito sem ter uma assistente social no local, uma psicóloga no local que deveria estar. Porque isto é uma situação que pode provocar um trauma. Ver as casas a serem demolidas, as suas próprias casas ou as dos vizinhos. Viver no medo para uma criança pequena ‘mãe quando é que vem a máquina para destruir a nossa casa’. É uma situação muito violenta que também não está a ser acautelada, ou seja, não foi dado nenhum tipo de apoio a estas famílias, nem ao bairro porque não são só as famílias, é o bairro todo que sofre com estas demolições, não foi dado sequer este apoio psicológico que é muito necessário.”