O filme Praxis (2011), de Bruno Cabral, apresenta as praxes académicas num registo de aparente “neutralidade”, sem crítica directa. Mas, ao mesmo tempo, é bem eloquente. Mostra, sem comentar, algumas das práticas típicas das praxes. As coacções e as hierarquias, as práticas violentas de submissão e o seu aproveitamento e promoção comerciais. Um filme com momentos inquietantes, revelando o que são as praxes, uma tradição inventada com traços importados de hábitos religiosos, militares ou clubísticos.
No final dos anos 80 e início dos 90, um movimento estudantil contra as propinas proclamava o contrário da obediência: a insubmissão generalizada, a luta contra a privatização do ensino e o combate pela verdadeira democratização do ensino superior.
Mas ao mesmo tempo as praxes, antes restritas à Universidade de Coimbra, começam nos anos 80 a generalizar-se em muitas universidades e institutos, públicos ou privados. Práticas de imposição à força, mas também de submissão voluntária, que conduziram a casos extremos de violência, incluindo, como é sabido, a traumas e violações, lesões graves e mortes.
Apesar disso, as praxes sobreviveram ainda hoje. Os seus defensores invocam a tradição e a integração dos novos alunos, bem como o prestígio das (suas) instituições de ensino superior. Deste filme, os defensores das praxes costumam dizer, à defesa: “Vejam, na minha escola não é assim”.
Os críticos das praxes académicas (incluindo dinâmicos movimentos estudantis contra as supostas tradições académicas) defendem a igualdade entre estudantes e o fim de práticas anacrónicas e conformistas, assentes em hierarquias ridículas, jogos de poder e visões da universidade reaccionárias, atafulhadas de símbolos bolorentos. Deste filme diriam, talvez: “Basta ver. Sem comentários.”